sexta-feira, 13 de março de 2009

Entrevista: Presidente da Junta de Freguesia da Parede

Natural de Vila Pouca de Aguiar, perto de Trás-os-Montes, Carlos Alberto Correia de Almeida adoptou a Parede como “segunda casa” há mais de 30 anos. Daí conhecer bem cada recanto da freguesia e grande número dos seus moradores.
À frente da presidência da Junta de Freguesia da Parede, desde 2005, altura em que tomou posse, o autarca faz um balanço do trabalho desenvolvido até ao final do mandato.
Em entrevista ao Correio de Cascais, Correia de Almeida dá conhecer “os problemas que tocam mais de perto a população”, fala de projectos à espera de passarem do papel à prática, sonhos adiados…


Correio de Cascais: Esta é uma das mais pequenas freguesias do concelho de Cascais. No entanto existem carências. Quais?
Correia de Almeida: A freguesia da Parede apresenta três grandes problemas que tocam mais de perto a população. O primeiro prende-se com a saúde. Existe na freguesia cerca de 20 mil utentes que ficaram sem médico de família uma vez que a maior parte dos médicos que estavam aqui no Centro de Saúde foram deslocados para S. Domingos de Rana. Esta é uma situação que se está a tentar corrigir mas é difícil. O Centro de Saúde não tem controlo sobre a saída dos médicos porque ser por iniciativa própria deles. Certo é que o nosso centro ficou muito desfalcado.
A agravar a situação, os transportes para o novo Centro de Saúde em S. Domingos de Rana são, na minha opinião, insuficientes. Pelo menos não são capazes de resolver o problema tendo em conta que os utentes são na maioria idosos que têm de apanhar dois autocarros para lá chegar, além de que a paragem mais próxima fica 200 metros, uma distância ainda considerável.

Mas falou em três problemas…
A nível de segurança, que envolve dois aspectos, nomeadamente iluminação da via pública e policiamento, há que sublinhar que, em termos de iluminação, existem zonas na freguesia em que é notoriamente deficiente. A Junta já contactou a EDP, entidade responsável, e está neste momento a aguardar que a empresa resolva colocar em prática um plano de remodelação ao nível da iluminação da Parede. Infelizmente, existem zonas em que os candeeiros são muito antigos e com iluminação deficiente. Contudo, não sei quando vai estar concluído.

E quanto ao policiamento…
No que diz respeito ao policiamento há que salientar que a última reestruturação das forças de segurança não trouxe vantagens para a freguesia, muito pelo contrário. Com os mesmos efectivos, se não menos até, a esquadra viu duplicar a sua área de intervenção não só em termos geográficos como também ao nível da população a assistir, que passou de 40 para 70 mil, o que prejudicou manifestamente a actividade policial na freguesia.
Não é que tenhamos conhecimento de uma actividade criminal intensa. Porém as pessoas sentem-se pouco seguras porque enquanto era usual ver, com alguma frequência, viaturas da polícia ou agentes a patrulhar as ruas a pé, essa é uma situação rara hoje em dia.

Qual é a outra dor de cabeça?
Sem dúvida a mobilidade. O trânsito e o estacionamento são dois problemas difíceis de resolver. Dada a consolidação urbanística da freguesia é muito difícil encontrar alternativas. Por outro lado, torna-se difícil contrariar o hábito das pessoas que continuam a querer estacionar o carro à porta e depois não há lugar para todos. Resultado: estacionam em cima dos passeios. Depois compete à Junta passar o tempo inteiro a colocar pilares de forma a impedir o estacionamento abusivo. Também ao nível do trânsito é complicado encontrar soluções, principalmente em algumas zonas de maior afluência onde existe congestionamento.

Mas existem alternativas a nível de estacionamento?
Sim, existem três parques de estacionamento só no centro histórico, num raio de cem metros e com uma capacidade razoável. Tirando o parque da Junta, na Rua Latino Coelho, que é um pouco apertado e de difícil acesso, os restantes dois são bons. Existe um ao fundo da Rua Miguel Bombarda e depois temos outro na Rua Capitão Leitão. Há ainda algum estacionamento disponível, um pouco mais afastado, na zona do Bairro das Caixas, onde normalmente há sempre lugar para estacionar. No entanto, como fica um pouco afastado do centro, as pessoas não optam por essa possibilidade.

Quanto a espaços verdes, a freguesia está bem servida?
Não se pode dizer que esteja numa situação óptima mas também não estará muito mal, embora existam, de facto, zonas que não estão tão bem servidas como, por exemplo, o Murtal, mas por falta de espaços livres. Aqui no centro da Parede encontram-se alguns espaços ajardinados relativamente pequenos mas é o que temos. Apesar da responsabilidade da Câmara Municipal, temos ainda o Parque Morais que está a ser agora requalificado. Depois nos Jardins da Parede também existe um jardim. E temos igualmente alguns parques infantis, nomeadamente na Quinta do Lameiro, Parque de Celão, Junqueiro…

Obras em curso…
Por exemplo, o terreno junto às Torres dos Maristas, na Avenida Gago Coutinho, já está a ser requalificado. É uma obra que está em curso e deve ficar concluída em Maio. Vão nascer nesta área espaços verdes, com estacionamento e zona de lazer, sem qualquer tipo de construção.

O antigo “cancro” da freguesia, as Marianas, terminou. Qual o seu futuro?
O Bairro das Marianas acabou totalmente. Há um projecto urbanístico para o bairro e se formos ao local já se vêm feitos os acessos e já foi colocada iluminação. Contudo, a construção propriamente dita ainda não arrancou por estar dependente do empreiteiro. Sei que vai ai ali nascer uma urbanização, só falta mesmo construir.

Existem espaços de lazer?
A nível de espaços de lazer existe muito pouco para não dizer nenhuns. Para além do Parque Morais, a freguesia da Parede não tem muito mais a oferecer. Existe o auditório do Colégio Maristas mas é privado. Temos também a Sociedade Musical União Paredense (SMUP) que realiza concertos e organiza bailes aos domingos. Mas, de resto, nem um cinema existe. Neste campo estamos mal servidos.

É outra carência da freguesia?
Sim, sem dúvida. Não há muitos espaços de lazer, logo não há motivos de fixação para a juventude. Por outro lado, a Parede é a única freguesia do concelho de Cascais que não tem uma infra-estrutura hoteleira, não existe um hotel ou uma unidade residencial. O que é estranho porque temos aqui uma excelente orla costeira com praias que são muito procuradas, sobretudo no Verão, dadas as suas características especificas de cura de doenças ósseas.

Há falta de espaço para a freguesia expandir?
Em termos urbanísticos, esta é uma freguesia muito consolidada, com poucos espaços livres, de forma que será complicado encontrar um espaço livre. Dai talvez seja esta uma das deficiências da Parede.

Em compensação a Parede tem excelentes praias
Temos a Praia Central da Parede que está a ser recuperada a nível de casas de banho e acessos a deficientes e a Praia das Avenas onde já estão a decorrer obras de requalificação. Uma obra de algum vulto que vai decorrer até ao final do ano. Importa referir que esta praia tem características específicas, considerada uma zona de interesse biofísico dado a sua flora e fauna que existe. Nesse sentido, a Câmara Municipal não pode mexer muito, apenas no que toca a acessos. Facto curioso é que esta praia é frequentada por famílias tradicionais. Não é um areal normalmente utilizado por qualquer pessoa.

A nível cultural o que está previsto?
Em termos culturais há dois aspectos a referir. Por um lado, a Casa Museu do Professor Reynaldo dos Santos que está a ser recuperada e será aberta ao público dentro em breve, penso que ainda este ano. E, por outro, a Casa do Pintor Carlos Botelho que também vai ser recuperada para museu. É apenas o que temos.

Quanto à tão falada Biblioteca da Parede, há novidades?
A construção da Biblioteca da Parede é, de facto, o grande projecto que existe para a freguesia e segundo consta vai ser a maior biblioteca do concelho. Porém, o processo tem vindo a arrastar-se ao longo dos anos por causa de duas faixas de terreno que existem no espaço envolvente onde vai ser construído o equipamento, no Bairro das Caixas. Já foi resolvido um dos casos, o outro julgo que vai passar pela expropriação. Estamos a aguardar.

Este será, porventura, o maior projecto para a freguesia?
Sim, sem dúvida. É o maior projecto que existe para a Parede até pelas dimensões que vai ter, incluindo um auditório. Contudo, o projecto está, neste momento, pendente de se conseguir resolver o referido litígio com um dos proprietários. Mas é minha convicção de que, assim que o processo de expropriação estiver concluído, tudo ficará pronto para se avançar com as obras.

Para o mercado está previsto algo?
O mercado é propriedade da Junta e já foi alvo de requalificação. Contudo, a tendência, infelizmente, deste tipo de mercado é para desaparecer. O seu futuro não será de todo muito brilhante com o surgimento das grandes superfícies comerciais e os jovens não têm nem tradição nem tendência para se deslocarem a este tipo de mercado. Enquanto existirem pessoas mais idosas na freguesia o mercado vai-se mantendo. Mesmo assim, a Junta fez um esforço e, no ano passado, remodelou o sector do peixe. Neste momento, estamos a pensar, embora não garanta que seja ainda no decorrer deste ano, em renovar a zona de venda de produtos hortícolas, legumes e frutas. E também iremos remodelar a instalação eléctrica.

A população da freguesia é, maioritariamente, envelhecida. Há respostas para estas pessoas?
Na minha opinião, a área social é um dos capítulos em que a Junta se empenha profundamente e que está melhor. Para além da própria actividade que prestamos, existem diversas instituições dedicadas à terceira idade, como a delegação da Cruz Vermelha Portuguesa, o Centro Comunitário da Paróquia da Parede, Lar da Bafureira, Associação de Idosos do Penedo, entre outras. Por isso, eu diria que, neste campo, não existem muitas razões de queixa.

Há freguesias que se queixam da falta de escolas. É um mal comum?
Não. A nível de equipamento escolar a situação está razoável. Existe apenas uma ou outra escola a necessitar de obras. Por exemplo, a Escola EB 2+3 de Santo António vai ser objecto de uma intervenção grande mas será uma obra da responsabilidade do Ministério da Educação. No que diz respeito ao ensino público, o número de escolas que existe é suficiente e a nível do ensino privado existem igualmente vários estabelecimentos de referência. Há resposta tanto para o ensino secundário como para o básico e temos ainda dois jardins-de-infância, um na Parede e outro no Murtal.