terça-feira, 9 de junho de 2009

Fim do Mundo: Câmara remete para Estado responsabilidade

O vereador da habitação e acção social da Câmara Municipal de Cascais, Manuel de Ferreira Andrade, remeteu hoje para o Estado a responsabilidade sobre os “casos isolados” das pessoas que ficaram desalojadas após a demolição das últimas barracas do Fim do Mundo.
Segundo Manuel Andrade “a Câmara não tem capacidade de realojar os indivíduos isolados, sendo que a primeira responsabilidade é do Governo e não da autarquia”.
E acrescentou: “já me foi pedida uma audiência pela designada Comissão de Moradores do Fim do Mundo e na próxima semana pretendo reunir-me com eles a fim de esclarecer o que se passa e o que devem fazer”.
Durante o dia de hoje, foram demolidas as últimas barracas do bairro do Fim do Mundo, no Estoril, num trabalho que começou às 8h30 e terminou às 16h30, apesar do protesto dos moradores, que acusavam a Câmara Municipal de falta de alternativas de habitação para alguns residentes.
Com cartazes na mão que diziam “Manuel Andrade queremos casa, também temos responsabilidades” e “Não é preciso engravidar para ter casa”, os moradores reivindicavam um lugar para dormir.
Ana Gomes, de 60 anos e uma das mais antigas moradoras do bairro, alegava que não tinha onde dormir e que não sabia o que fazer a todas as suas coisas.
Também Jani, um dos membros da comissão de moradores do Fim do Mundo, mostrou-se revoltada com o facto de a Câmara só realojar as famílias que tivessem filhos.
“Quem não tem filhos não tem direito a casa. Então, a solução é começarem as raparigas todas a engravidar”, reivindicava.
A Câmara Municipal de Cascais fez-se representar, no local, pelo director do departamento da Polícia Municipal, Domingos Antunes, que esclareceu terem sido demolidas sete barracas e que “todas as famílias foram realojados”, admitindo que “há indivíduos isolados que terão de procurar alternativas por eles próprios”.
Estas declarações contrariam a posição da comissão de moradores do bairro, que alegava estarem a ser demolidas 15 barracas, que correspondiam ao mesmo número de pessoas desalojadas.
A comissão de moradores prometeu continuar com a luta pelo direito à habitação, estando prevista uma próxima manifestação para o dia 21 de Junho, quando for inaugurado o Centro Paroquial que está a ser construído no local das antigas barracas.
O entulho resultante da demolição das barracas vai ser removido no início da próxima semana, sendo que está em desenvolvimento um “projecto de renaturalização deste espaço da Reserva Ecológica Nacional, que irá permitir a devolução do Pinhal de Santa Rita à população”.
O degradado bairro do Fim do Mundo, onde foram recenseados 287 agregados familiares, está a ser desactivado desde 2002, tendo a mais recente demolição, relativa a nove casas, ocorrido em Março.