sexta-feira, 24 de julho de 2009

S. Pedro do Estoril: Passagem pedonal vai ser suprimida


Após anos de luta, os moradores de S. Pedro do Estoril podem finalmente respirar de alívio. A passagem de nível para peões, junto à estação de comboios, onde já ocorreram 12 mortes, vai ser eliminada e substituída por duas inferiores, uma a poente e outra a nascente. Um projecto arrojado, da responsabilidade da REFER, mas que mereceu ainda algumas criticas.
Foram muitos os moradores de S. Pedro do Estoril que se deslocaram, no passado dia 15, ao Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, para assistir à apresentação pública do projecto de intervenção que vai ser alvo a estação desta localidade, no âmbito da requalificação do Modo Ferroviário da Linha de Cascais.
O projecto contempla a construção de duas acessibilidades desniveladas, numa intervenção que será realizada em articulação com a Câmara Municipal de Cascais e que terá inicio no final do Verão.
A apresentação foi feita pelo arquitecto João Rocha, responsável pelo projecto, e pelo engenheiro Luís Rodrigues, representante do Gabinete Técnico de Acompanhamento e Gestão da Empreitada.
Segundo os responsáveis, a construção das duas passagens inferiores pedonais – o que permitirá o encerramento definitivo do atravessamento da linha – “ainda não tem uma data prevista para o seu início, estimando-se que comece em Setembro, final da época balnear, mas terá a duração de nove meses, ficando concluída em 2010”.
Além da construção das duas passagens inferiores, a REFER vai ainda criar espaços de apoio ao cliente ferroviário, como bilheteiras, lojas e instalações sanitárias, e proceder à colocação de novo pavimento e coberturas parciais de apoio a passageiros. Para tal, serão investidos cinco milhões de euros, verba que integra ainda a colocação de elementos que garantam o conforto e segurança dos seus utilizadores.
De acordo com João Rocha, o projecto contempla “um acesso vertical público, composto por uma escada e por um elevador, de forma a garantir a circulação embora condicionada”, sendo que “a área ferroviária vai estar aberta e fechada de acordo com o horário da estação”.
Também no subsolo vai existir “uma zona aberta 24 horas por dia”, e está igualmente prevista uma “área comercial de apoio ao funcionamento da estação e movimento de pessoas e uma zona de instalações sanitárias, telefones, multibanco”.
No lado nascente, “o programa é mais reduzido”, anunciou o arquitecto. “O acesso será feito através de escada que liga a Rua Nunes dos Santos à Rua Carvalho Araújo, com uma área mista, composta por venda de bilhetes e mudança de plataforma, sala técnica e barreiras de controlo de acessos”.
Quanto à duração das obras, Artur Ferreira, vereador da Câmara Municipal de Cascais, explicou aos presentes que a intervenção se fará de forma faseada, por existir “uma preocupação em acautelar a mobilidade das pessoas”.
Contudo, alguns pormenores do projecto não agradaram aos moradores que reivindicaram a falta de rampas de acesso a pessoas com mobilidade reduzida, pois o acesso só se pode fazer por elevador ou escadas.
“Uma situação impensável em pleno século XXI”, alegam, acrescentando que “em caso de avaria no elevador, deficientes, idosos e pais com carrinhos de bebés vão ter dificuldades ou até ficar impossibilitados de aceder ao comboio. O elevador é bom mais não o suficiente até porque, depois, não se sabe quanto tempo poderá demorar a sua reparação”.
Perante esta questão, António Capucho, presidente da autarquia, esclareceu, em comunicado, que “no âmbito do projecto de construção das duas passagens pedonais inferiores, não foi possível acautelar a construção de rampas tendo em conta o insuficiente diferencial de quotas e o reduzido espaço para a implantação das mesmas dado a estação se situar numa zona habitacional densa e perfeitamente consolidada”.
O autarca explicou também que “o acesso de peões às passagens inferiores pedonais e às plataformas será feito exclusivamente por escada e elevador, sendo que, por questões de proximidade, a manutenção destes equipamentos será da responsabilidade da autarquia”.
O impacto das obras é outra preocupação. Os moradores pedem celeridade na conclusão do projecto. “Já morreu muita gente nesta terra. Por isso pedimos que não demorem muito tempo porque a população de S. Pedro é que está a ser prejudicada”, argumentam.
Em entrevista ao Correio de Cascais, Manuela Andrade, presidente do Núcleo de Amigos de S. Pedro (NASPE), congratulou-se com o projecto apresentado, afirmando que o mesmo “não era para ser já apresentado. A REFER decidiu antecipar a obra, com base nos contactos que mantivemos com a empresa, muitos deles acessos, principalmente na altura em que ocorreram as mortes. A nossa relação de proximidade com os técnicos e a insistência da autarquia fez com que o projecto fosse antecipado”.
“Os moradores ficaram contentes por constatar que a REFER contemplou no projecto as nossas preocupações que se prendiam essencialmente com a questão da acessibilidade, bem-estar e parte funcional e técnica da obra”, disse, acrescentando ainda que “desde logo houve uma garantia por parte da empresa de que tudo iria ser feito com base na segurança dos peões. Notou-se também uma preocupação no acabamento da obra, o que nos agradou bastante”.
Quanto à questão das rampas de acesso, suscitada por alguns dos moradores presentes, Manuel Duarte argumentou que “desde logo pedimos as rampas mas temos de concordar com os técnicos uma vez que sabemos que existe uma enorme dificuldade em termos de espaço. Mas tirando esta situação, de uma forma geral, os moradores estão contentes com a solução encontrada”.